Elas estão mais ativas e descobrem que podem ter conquistas mesmo depois dos 50
Por Rodolfo Luis Kowalski e Ana Ehlert
Cleni, 53 anos, mas cabeça e vitalidade de uma jovem (foto: Valquir Aureliano)
Nos últimos 30 anos elas conquistaram a igualdade de gênero como direito fundamental, descobriram o amor livre (e algumas até mesmo o amor próprio), arrombaram as portas do mercado de trabalho e já disputam palmo a palmo as vagas de trabalho com o sexo oposto. Agora, já mais maduras, sensuais, menos tímidas, mais realistas e vividas, elas querem alcançar a satisfação interior e o autoconhecimento. Numa analogia com o mundo masculino, elas estão na etapa da vida conhecida como “Idade da Loba”, quando assumem uma postura mais ativa, buscando auto-afirmação e realização no plano profissional, social e amoroso.
Em Curitiba, segundo dados do IBGE, existem 194.019 mulheres com idades entre 40 e 54 anos, o que representa 11,09% da população total da Capital. Se em outros tempos essa idade era relacionada a um estilo de vida mais comedido, atualmente elas lotam os horários matinais das academias, dão uma baita força para a indústria farmacêutica e de cosméticos e ainda trabalham fora de casa — afinal, o que todas mais querem é independência.
“Acho que temos de viver plenamente cada fase da nossa vida. Hoje estou com 51 anos e me sinto muito bem para a idade, realmente não sinto que tenho 51. Acho que a minha cabeça é mais jovem”, conta Maria Lucia Dal Santo, que há oito anos corre pelo menos quatro vezes por semana pelas ruas do bairro onde mora, o Guabirotuba, antes de ir para o trabalho de manhã (ela é funcionária da Caixa Econômica Federal). Além disso, também faz musculação para se manter “com tudo em cima”.
“Eu já participei de mais de cem corridas e tenho uns sete pódios. Praticamente todo final de semana participo de algum circuito ou prova. Também procuro controlar a alimentação e faço academia”, conta a mulher, que há cinco anos também colocou prótese mamária. Tudo para se sentir melhor, fazer crescer a auto-estima. E tem dado certo.
Este perfil faz sentido, já que a brasileira quer viver melhor e, em média, sete anos a mais que os homens. E viver melhor também pode significar estar ativa por mais tempo. Cleni Negreiros de Souza Alcantara, 53 anos, conta que sempre cuidou da alimentação e vê na atividade física moderada uma forma de se manter saudável. Ela conta que, graças a rotina de cuidados, conseguiu engordar apenas 2 quilos desde de quando era solteira. “Eu tinha 58 quilos e, agora aos 50 anos e mãe de três filhas, peso 60 quilos”, conta. “Estou há dois anos na menopausa, mas, em comparação com outras amigas minhas, meus sintomas são bem mais tranquilos”, diz.
Trabalho — Quando atingem a maturidade, muitas mulheres também decidem mudar de carreira. Afinal, após passar mais da metade da vida trabalhando e alcançar a estabilidade financeira, é hora de correr atrás de outras realizações profissionais, de outros sonhos. E foi justamente o que fez a chef Silvana Villafranco, uma das sócias do Restaurante Paraguassu, localizado na Rua Machado de Assis, 525, no bairro Juvevê.
Antes de abrir o negócio, Silvana trabalhava em empresas. “Foram mais de 20 anos batendo cartão”, lembra ela. Há nove anos atrás, porém, a mulher se decidiu que era hora de realizar um sonho antigo: abrir o próprio negócio. Para o negócio dar certo, a experiência acumulada na primeira metade da vida foi essencial.
Curiosamente, o local acabou se tornando um dos principais “points” para os lobos e lobas de Curitiba. “Nosso público é um pessoal mais velho, não tem piazada. São homens e mulheres com mais de 30 anos, muitos médicos, advogados”, conta a mulher, que após o sucesso alcançado pelo negócio não só conseguiu se realizar ainda mais profissionalmente, como também conseguiu mais tempo livre.
Prazer — Além da busca pela realização social e profissional, muitas mulheres mais velhas buscam a satisfação amorosa e sexual. Em geral, são mulheres que se divorciaram e agora buscam um novo amor ou então mulheres que preferiram primeiro se estabelecer profissionalmente.
Segundo Sheila Rigler, diretora da Par Ideal, uma das maiores agências de namoro e casamento do Brasil, de 30 a 40% das clientes que estão em busca de um pareceiro tem mais de 35 anos. “A maioria são mulheres bem estabelecidas e que querem formar uma família ou então mulheres divorciadas que também estão muito bem profissionalmente e querem se relacionar com alguém”, afirma Sheila. “Geralmente elas querem um homem mais ou menos da mesma idade que elas, que seja companheiro, cúmplice, e do mesmo nível que elas (financeiro, social, intelectual)”, complementa.
Porque? — Mas por que “mulheres lobas”? Existem duas teorias. Uma delas diz que foi em meados dos anos 1980 que o termo ganhou sucesso após a jornalista Regina Lemos lançar o livro “Quarenta: a idade da Loba”, que desvendava como as mulheres que tinham vivido a revolução sexual estavam encarando as transformações físicas e emocionais da meia-idade. Já a outra diz que a expressão é uma referência e concomitantemente uma resposta irônica à teoria de Freud que o homem, quando chega aos 40, está na idade do lobo. O fato, porém, é que o termo acabou caindo bem.